“É melhor morrer na luta do que morrer de fome”
Nascida e criada em Alagoa Grande, no Brejo Paraibano, foi a primeira mulher presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais
da cidade. Lá, fundou o Centro de Educação e Cultura do Trabalhador
Rural, uma iniciativa que, até hoje, contribui para o desenvolvimento
rural e urbano sustentável, fortalecendo a agricultura familiar.
Lutando pela defesa dos direitos dos trabalhadores sem terra, suas principais metas eram o registro em carteira de trabalho, a jornada diária de trabalho de 8 horas, 13° salário, férias e demais direitos, para que as condições de trabalho no campo pudessem ser equiparadas ao modelo urbano.
Em seus 12 anos de gestão, o Sindicato moveu mais de 600 ações trabalhistas
e fez diversas denúncias, como a endereçada diretamente ao Presidente
do Brasil, em 1982, João Batista Figueiredo. Infelizmente, Margarida não
viveu o suficiente para ver o resultado de seu pleito. Por causa do
surgimento do Plano Nacional de Reforma Agrária, a violência no campo
foi intensificada por parte dos latifundiários, que não queriam perder
suas terras, mesmo as improdutivas.
A partir deste momento, o trabalho de
Margarida na defesa dos direitos dos trabalhadores entrou em conflito
com os interesses dos latinfundiários, tornando-a uma ameaça para eles.
Em seu discurso na comemoração do 1° de maio de 1983, na cidade de
Sapé, na Paraíba, ela deixou isto bem claro: “Eles não querem
que vocês venham à sede porque eles estão com medo, estão com medo da
nossa organização, estão com medo da nossa união, porque eles sabem que
podem cair oito ou dez pessoas, mas jamais cairão todos diante da luta
por aquilo que é de direito devido ao trabalhador rural, que vive
marginalizado debaixo dos pés deles”.
Margarida seria assassinada três meses e
onze dias após essa declaração. O principal acusado é Agnaldo Veloso
Borges, então proprietário da usina de açúcar local, a Usina Tanques, e
seu genro, José Buarque de Gusmão Neto, mais conhecido como Zito
Buarque. Seu sogro era o líder do Chamado Grupo da Várzea, composto por
60 fazendeiros, três deputados e 50 prefeitos. O crime ocorreu no dia
12 de agosto de 1983, quando um pistoleiro de aluguel, num Opala
vermelho, disparou um tiro de escopeta calibre 12 em seu rosto, quando
ela estava na frente de sua casa. Seu filho e seu marido viram tudo.
Foram acusados pelo crime o soldado da PM Betâneo Carneiro dos Santos,
os irmãos pistoleiros Amauri José do Rego e Amaro José do Rego e Biu
Genésio, motorista do Opala. Mais tarde, ele foi assassinado, como
“queima de arquivo”.
O crime teve repercussão internacional,
com denúncia encaminhada à Corte Internacional de Direitos Humanos e
várias outras entidades semelhantes. Severino, o marido de Margarida,
dizia que “ela era uma mulher sem medo, que denunciava as injustiças”. Na época de sua morte, 72 ações trabalhistas estavam sendo movidas contra os fazendeiros locais.
Símbolo da luta pelos direitos dos trabalhadores rurais, Margarida recebeu, postumamente, o prêmio Pax Christi Internacional, em 1988; em 1994, foi criada, pela Arquidiocese da Paraíba, a Fundação de Defesa dos Direitos Humanos Margarida Maria Alves e, em 2002, recebeu a Medalha Chico Mendes de Resistência, oferecida pelo GTNM/RJ.
O dia de seu assassinato, 12 de agosto, é
conhecido como o Dia Nacional de Luta contra a Violência no Campo e
pela Reforma Agrária.
POSTADO POR: Severino Antonio (bibiu do jatobá)
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