segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O ESPAÇO CULTURAL SE APRONTA PARA RECEBER UM NOVO FENART

Somente a memória poderá nos salvar do abismo. Digo isto para falar do Festival Nacional de Artes – FENART que no próximo ano chegará à sua XIV edição e terá como tema a história do seu berço, o Espaço Cultural José Lins do Rego, o segundo maior do mundo, somente perdendo para o Centro Cultural George Pompidou, na França. Digo que somente a memória poderá nos salvar do abismo porque depois da tragédia acontecida na Boate Kiss, em Santa Maria e de outras tragédias semelhantes espalhadas poelo mundo, devemos entender que o grande festival é a vida. Considerando que antes dos últimos FENARTs corriam rumores pela internet dos perigos de uma estrutura que necessitava de reparos urgentes, podemos dizer que o alto investimento do Governo do Estado na recuperação dos equipamentos culturais é que é o grande FENART do governador Ricardo Coutinho. O Espaço Cultural José Lins do Rego estava em estado de choque, principalmente pelo alto grau de comprometimento das suas estruturas hidráulicas e elétricas. Não foram poucas vezes que artistas tiveram que se afastar, para dar lugar à chuva que caia em pleno palco.  O Espaço Cultural estava ficando cada vez mais uma gambiarra perigosa. Todavia, mesmo numa situação de crise econômica (ainda mascarada pelo Governo Federal) e diante da maior seca das últimas décadas o Governador decidiu pela requalificação dos equipamentos culturais.

No entanto, não me parece que o próximo FENART  deva ser apenas mais um FENART. Ou que seja um evento para não marcar esta primeira gestão de Ricardo Coutinho sem o nosso maior festival. Não podemos reduzir o debate porque a gestão do Espaço Cultural, no comando de Lu Maia, resgatou políticas importantes como as publicações e outras tantas. As edições FUNESC estavam adormecidas à longos 16 anos. Ninguém mais reclamava sua ausência. O XIX  FENART deve marcar, sobretudo uma nova era para o Espaço Cultural. Inclusive com a intensa reflexão sobre o que é, o que foi e o que poderá ser o FENART e o próprio Espaço Cultural. O que nos parece lógico é que aquele espaço público não pode ser tratado como um “elefante branco”, como um espaço de degradação física e de conteúdo frágil. O novo FENART terá a missão de nos apontar um novo caminho e uma nova perspectiva para as políticas públicas na Paraíba. Este novo caminho, entendemos, passa por novas estratégias, como a implementação de experiências permanentes de Economia Criativa e Solidária. Passa pela inclusão da produção cultural das diferentes regiões do Estado no cotidiano daquele centro cultural que é maior, inclusive que o Centro Cultural São Paulo.

A Paraíba tem uma posição privilegiada. Fica exatamente no centro do Nordeste e na alça de mira da Europa. Estamos na terra de grandes ícones da cultura brasileira como Jackson do Pandeiro e Sivuca. Na terra de grandes pensadores da América Latina, como Celso Furtado. Temos uma produção contemporânea compatível com a história das artes no mundo. Em todas as áreas, em todas as linguagens, temos identidade e talento. Por que não usar isso como foco estratégico de uma política de desenvolvimento? Podemos gerar trabalho e renda para milhares de jovens, artistas, intelectuais, artesãos ou produtores culturais espalhados pela terra de Pedro Américo. Não é pouca a capacidade do povo paraibano de inventar caminhos. Talvez somente seja compatível com o tamanho da nossa capacidade de sonhar. O XIV FENART deve pautar esta inquietação. Não pode ser apenas um período marcado no calandário cultural. Isso não revelará absolutamente mais nada e nós queremos muito mais. Mais que isso: precisamos de mais e podemos ir mais longe.

Para o próximo FENART não necessitaremos de grandes somas em dinheiro para garantir as atrações nacionais. As atrações convidadas deverão dialogar com este novo momento. O centro de tudo é a Paraíba e a sua diversidade cultural e se não for assim, não valerá a pena fazer mais um evento e minguar atitudes durante os próximos 12 longos meses. Estamos discutindo o FENART por aí. Vamos realizar uma Roda de Diálogo específica para discutir o evento e queremos construir propostas imediatas para problemas que se arrastam por décadas. Não se trata apenas de programação A ou B. Não vamos querer o debate fora do interesse público e fora de uma perspectiva de futuro. O que está passando diante de nós agora e é de inteira responsabilidade desta geração é a história. É na história que devemos consolidar ou não as mudanças necessárias, as transformações, as transgressões dos acomodamentos de vaidades. O novo Espaço Cultural abrigará o FENART, mas também deve se transformar em campo de extensão universitária. Deve ser um permanente espaço de convívio dos artistas paraibanos como o povo e com os sonhos coletivos. Somente assim valerá a pena. Mas, não entendemos isso, senão enquanto processo. Um plantio permanente para uma colheita segura. Por isso estaremos plantando mudas de tamarindo, oriundas do tamarindeiro do Pau D’Arco, que inspirou Augusto dos Anjos num dos seus poemas mais conhecidos. O FENART terá esse simbolismo e acontecerá com a reinauguração do Espaço Cultural. Sua mobilização e as suas definições já estão tomando as ruas, os becos, os sítios... na serra, no Sertão, no Seridó, no Cariri, no Curimataú e em nosso generoso litoral. Na verdade, a vida é que é nosso imenso festival e a história não nos poupará de um justo degredo, caso nos omitirmos diante dos maiores desafios.


Lau Siqueira

  • Lau Siqueira é gaúcho de Jaguarão-RS e reside há mais de vinte e cinco anos na Paraíba. É poeta e escritor. Escreve artigos sobre literatura, arte, cultura e políticas públicas. Publicou cinco livros e participou de várias antologias e coletâneas de repercussão regional e nacional.

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