quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A AGAVE - Crônica de Martinho Ramalho de Melo.



 A zoada do motor de agave a óleo quebrava a rotina e a monotonia daquele pé de serra. Eu via os trabalhadores cortando as folhas dos pés de agave, via-os levarem para um paiol. Passavam a folha na desfibradeira e colocavam a fibra amarela estendida em cordas suspensas para secar.

Quando criança tinha algumas mechas de cabelo amarelo e por isso diziam:

- Cabelo de agave!

Papai deixou intacto os partidos de agave.  É uma cultura resistente e ajudava o gado na seca. Mas deixou de ganhar dinheiro com essa cultura, substituída pela cana. Passou depois a vender, periodicamente, o partido de agave a terceiros.  Depois de muitos anos, só ganhou um dinheiro quando vendeu a safra a um comprador de Cuité de nome Zeca Maduro.

Poucos anos antes de sua morte, desiludido com a possibilidade do preço de agave melhorar, mandou arrancar de vez toda a plantação da propriedade, para ceder lugar a roçados.  

Apesar de receber muita furada de espinhos da agave, quando passava para levar o gado de volta ao curral, eu tinha uma afeição muito grande ao agave , pois esta cultura ajudou muito meu pai mo inicio de sua vida de casado.

Com dinheiro de agave, meu pai comprou a casa em que nasci na rua da Olinda, depois demolida, que ajudou na criação e educação dos seus filhos. Foi o pontapé inicial de uma jornada de vida.

Do livro ”CRÔNICAS DA VIDA REAL” do escritor e jurista alagoagrandense, MARTINHO RAMALHO DE MELO.

Editora IDÉIA, João Pessoa 2012, pg. 36.

Este texto foi digitado por Mariana Tamires da Silva em 04/09/2013.

Postado por - Severino Antonio (bibiu)

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