A
liberdade de expressão, que era definida por George Orwell (1903-1950) como "o
direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir", é um dos ingredientes
que torna tão cativantes os escritos do autor de 1984 e Revolução
dos Bichos. Sem papas na língua, com uma prosa lúcida e sem firulas, sempre
corajoso na manifestação de suas opiniões e impressões, o escritor inglês também
tem uma significativa produção jornalística que se torna cada vez mais
disponível ao público brasileiro.
Com
o lançamento de "O Que é Fascismo? E Outros Ensaios" (Companhia das Letras, 2017,
160 pgs, compre por R$29,90 na Livraria A Casa de Vidro), que contêm 24
artigos selecionados por Sérgio Augusto, já gozamos de acesso a 3 livros que
coletam os ensaios políticos de Orwell - os outros dois são Como Morrem Os Pobres e Dentro da Baleia. Além disso, podemos nos deliciar com
relatos autobiográficos como Na Pior Em Londres e Paris e com romances excelentes,
ainda que menos conhecidos, como A Flor da Inglaterra e A Filha do
Reverendo.
Frequentemente
descrito como um dos críticos mais perspicazes do totalitarismo, George Orwell
defendia o que chamava de "socialismo democrático". Tal tomada de posição não
torna seus artigos na imprensa culpáveis de panfletarismo ou proselitismo. Sem
afetar nenhum tipo de neutralidade angelical, aliás inacessível aos animais
políticos que somos, Orwell mantêm-se fiel a certos parâmetros éticos que
norteiam sua conduta na ação e na escrita, em especial sua convicção de que é
preciso respeitar a verdade objetiva e sua noção de que a missão do socialismo é
a invenção de uma sociedade baseada na fraternidade humana.
"A
história é escrita pelos vencedores", escreve Orwell em 1944. "Em última
análise, nossa única reivindicação de vitoriosos é que caso ganhemos a guerra
contamos menos mentiras sobre ela do que nossos adversários. O que é realmente
assustador quanto ao totalitarismo não é que ele cometa 'atrocidades', mas que
agrida o conceito de verdade objetiva: ele proclama que controla o passado tão
bem quanto o futuro." (p. 77) Em 1984, o Partido Único que governa a
distópica sociedade que têm à sua testa o Grande Irmão também pratica a mentira
em escala massificada: o protagonista Winston Smith trabalha no Ministério da
Verdade, onde passa seus dias adulterando notícias de jornal e registros
históricos de acordo com as ordens da elite, adaptando o passado conforme os
interesses da ocasião.
No
artigo Socialistas podem ser felizes? (p. 63 a 72), Orwell tece certas
reflexões importantes sobre a utopia ("a propósito, a palavra não significa 'um
lugar bom', mas 'um lugar inexistente'") e estabelece sua própria perspectiva
socialista democrática em bases sólidas, nada quiméricas, bastante pé-no-chão,
sugerindo que as lutas contra as distopias reais é o primeiro passo de
qualquer mobilização sócio-política:
"Sugiro
que o verdadeiro objetivo do socialismo não é a felicidade. O verdadeiro
objetivo do socialismo é a fraternidade humana. Homens passam suas vidas em
dolorosas lutas políticas, ou são mortos em guerras civis, ou torturados em
prisões secretas da Gestapo, não para estabelecer algum paraíso com aquecimento
central, ar condicionado e iluminação fluorescente, mas porque eles querem um
mundo no qual homens amem uns aos outros em vez de trapacearem e se assassinarem
reciprocamente. E eles querem esse mundo como um primeiro passo. (...) Neste
Natal, milhares de homens estarão sangrando até morrer nas neves da Rússia, ou
se afogando em águas geladas, ou fazendo uns aos outros em pedaços com granadas
nas ilhas pantanosas do Pacífico; crianças sem-teto estarão vasculhando as
ruínas de cidades alemãs em busca de comida. Fazer com que esse tipo de coisas
seja impossível é um bom objetivo." (ORWELL, 2017, p. 70-71)
Estas
palavras mostram bem que George Orwell não era um utopista, ou seja,
alguém que tivesse proposto um modelo ou arquétipo de sociedade
idealizada, mas muito mais um crítico mordaz dos pesadelos reais de que foi
contemporâneo em seu tempo histórico. A distopia é o seu terreno, muito
mais que a utopia, e certamente ele não fabricou com uma imaginação sem freios
os sistemas políticos opressivos e totalitários de 1984 e Revolução
dos Bichos, mas partiu de realidades que pôde conhecer e nas quais se
engajou. Sabe-se bem que Orwell fez parte das milícias do Partido Operário de
Unificação Marxista (POUM) que insurgiu-se contra a tirania de Franco na
Espanha, tendo lutado durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), tendo sido
baleado no pescoço (sobre o tema, escreveu Homenagem à Catalunha).
Com
sua inteligência vigilante e seu senso crítico sempre ativo e operante, Orwell,
vivendo na primeira metade do século XX, testemunhou a ascensão de lideranças
nazi-fascistas como Franco (Espanha), Mussolini (Itália) e Hitler (Alemanha),
mas também viu a Revolução Russa de 1917 trair as suas promessas ao
transformar-se no pesadelo stalinista, denunciado na literatura por romances
como O Zero e o Infinito (Darkness At Noon), de Arthur Koestler, autor
que Orwell comenta longamente em um magistral ensaio de 1946, incluído em O
Que É o Fascismo? (pgs. 102 a 116).
Somado
ao monumental estudo de Hannah Arendt em As Origens do Totalitarismo, a
obra de Orwell condensaria a tese de que teriam existido dois totalitarismos
neste século que Hobsbawn apelidou A Era dos Extremos: um totalitarismo
de direita e outro de esquerda. Seria indigno que nos indignássemos, por
exemplo, apenas contra o pesadelo do III Reich e todos os seus holocaustos e
atrocidades bélicas, caso silenciássemos sobre os gulags e os
expurgos do regime de Stálin.
A
atitude de Orwell é de crítica ampla e ilimitada a todas as faces da tirania,
mas nota-se que ele não menospreza seus adversários: boa parte dos ensaios é
dedicado a um debate com poetas reacionários e conservadores, alguns francamente
fascistas, como é o caso de Ezra Pound (que aliou-se ao regime de Mussolini).
Orwell analisa de modo crítico a obra de um T.S. Eliot e um Yeats, sem cair na
falácia de repudiar totalmente suas obras literárias por discordar de suas
posições políticas. Chega a admitir que aprecia Louis-Ferdinand Céline como
escritor, apesar de seu vociferante e inaceitável anti-semitismo.
Orwell
também fala sobre o Mein Kampf de Hitler, destacando que "o que
impressiona é a rigidez de sua mente, o modo como sua visão de
mundo não evolui", mas admitindo que "Hitler não teria tido sucesso
contra seus muitos rivais não fosse a atração de sua própria personalidade". Em
frases capazes de chocar alguns, escreve: "nunca fui capaz de não gostar de
Hitler. Desde que ele chegou ao poder, acho que decerto o mataria se pudesse ter
acesso a ele, mas sem sentir nenhuma animosidade pessoal. O fato é que há nele
algo que é profundamente atraente..." (p. 29)
Pode
parecer estranhíssimo que Orwell confesse que havia em Hitler algo de
"profundamente atraente", mas de fato é um enigma importante de se decifrar: o
que constitui o fascínio do fascismo? Como é possível que tanta gente
se filie a movimentos fascistas, que tantos soldados tenham sido
obedientes às ordens de seus líderes fascistas e marcharam para campos de
batalhas onde massacrariam e seriam massacrados? Que atração é esta
que Hitler, Mussolini, Franco ou Pinochet - alguns dos mais célebres estadistas
fascistas - puderam exercer sobre seus acólitos? Para Orwell, Hitler sabia fazer
uma pose heróica, como se a história fosse uma epopéia, era cheio de posturas
"napoleônicas":
"Se
estivesse matando um camundongo ele saberia fazer com que parecesse estar
matando um dragão. Sente-se, como no caso de Napoleão, que ele está lutando
contra o destino, que ele não tem como vencer, mas que de certa forma ele o
merece. A atração de uma pose assim é, obviamente, enorme; metade dos filmes a
que assistimos trata desse mesmo tema... Hitler também captou a falsidade da
postura hedonista diante da vida. Quase todo o pensamento ocidental desde a
última guerra, com certeza todo o pensamento 'progressista', assumiu tacitamente
que os seres humanos não desejam nada além de ter facilidade, segurança e evitar
o sofrimento. Em tal visão da vida não há espaço, por exemplo, para o
patriotismo e para as virtudes militares. O socialista que surpreende seu filho
a brincar com soldadinhos costuma ficar aborrecido, mas nunca é capaz de pensar
em um substituto para soldados de chumbo; pacifistas de chumbo, de certa forma,
não iam funcionar. Hitler, por sentir isso com força excepcional em sua própria
e triste mente, sabe que seres humanos não querem apenas conforto, segurança,
poucas horas de trabalho, higiene, controle de natalidade e, no geral, bom
senso; eles também, ao menos intermitentemente, querem luta e autossacrifício, e
isso sem falar em tambores, bandeiras e desfiles demonstrativos de lealdade. O
que quer que possam ser como teorias econômicas, o fascismo e o nazismo são, em
termos psicológicos, muito mais sensatos do que qualquer concepção hedonista da
vida." (New English Weekly, 1940, p. 30)
Este
é um dos trechos mais questionáveis de todos os que já li de Orwell e sinto
necessidade de debatêlo, e até contestá-lo: quando ele busca demolir a
"concepção hedonista da vida", parece compreender por esta expressão algo que
pouco tem a ver com a ética epicurista (como se expressa também na obra de
Lucrécio ou Horácio) ou com as propostas do materialismo iluminista (Helvétius,
por exemplo). Ao falar contra o hedonismo, Orwell parece estar dizendo que o ser
humano, longe de ser uma máquina simplória de perseguir o prazer pessoal e
imediato, tem uma psiquê mais complexa e que pode admitir o martírio e
o autossacrifício, caso acredite que através disso aumentará seu valor pessoal,
seja no mercado intersubjetivo dos afetos humanos terrenos, seja no mercado
transcendental em que alguns crêem e que pode incluir a noção de que compramos o
tíquete de entrada no Paraíso através de certas afrontas que fazemos ao nosso
próprio egoísmo.
Para
Orwell, os líderes fascistas sabiam muito bem que as pessoas não desejam apenas
conforto, segurança e entretenimento - em suma, sofás luxuosos onde deitarem-se
para assistir TV enquanto comem salgadinhos com Coca-Cola. As pessoas têm
necessidade íntima de sentido e não só prazer, e por isso
fascinam-se por projetos que proponham aventura coletiva, heroísmo nacional,
filiação e lealdade a projetos que transcendem a individualidade e a vida
privada - e esta predisposição psíquica as conduziria a abraçar lideranças
fascistas como Hitler. A tese orwelliana, bastante debatível, parece-me um pouco
simplista, em especial quando a comparamos com aquilo que foi realizado pela
psicologia de massas através de autores como Erich Fromm (O Medo à
Liberdade), Stanley Milgram (Obediência à Autoridade), Wilhelm
Reich (Psicologia de Massas do Fascismo). Todas as reflexões de Hannah
Arendt sobre o conceito de banalidade do mal parecem-me também de suma
relevância.
O fascínio do
fascismo, segundo estes autores, tem a ver também com uma espécie de
auto-demissão da autonomia, praticada por um sujeito que deleita-se em
abandonar-se ao comando de algo mais forte que ele, gozando com
a hedonê perigosa que é o alívio do senso de responsabilidade. Esta
prazeirosa leveza da des-responsabilização, o hedonismo fácil que consiste em
seguir o rebanho e ir com o fluxo, Orwell parece não ter considerado em suas
incursões rápidas no território da psicologia social. Não se trata, para as
massas arrebanhadas pelo fascismo, de anti-hedonismo, mas sim de um
irracionalismo grávido de atrocidades onde os sujeitos sentem prazer no
aniquilamento da própria autonomia e responsabilidade, mas o fazem, sim, em
busca de um prazer pessoal por vezes bastante mesquinho e atroz, já que baseado
em larga medida no prazer perverso ou sádico do ódio à
alteridade que o fascismo possibilita que se expresse,
dando-lhe o estatuto de legalidade e garantindo-lhe os louvores e as
salvas-de-palmas do regime.
Estes
temas ganharam uma nova ocasião para reflexão em 1940 quando chegou aos
cinemas O Grande Ditador (The Great Dictator), de Charlie
Chaplin, obra que é objeto de um dos mais interessantes ensaios de Orwell
em O Que É Fascismo?. No filme, Chaplin interpreta dois personagens:
Hynkel, o ditador da Tomânia, inspirado em Hitler; e um barbeiro judeu que se
torna soldado durante a 1ª Guerra Mundial, sobrevive à queda de seu avião e é
trancafiado num hospício por 20 anos. Ao sair do hospício, retornando à sua
barbearia, este personagem não sabe dos horrores que estão sendo praticados por
Hynkel em seu frenesi antisemita e imperialista.
Após
uma série de peripécias, repletas de humor pastelão entremeado com as
ocorrências do lodaçal bélico em que a Europa chafurdou, a semelhança física
entre Hynkel e o pobre barbeiro oferece ocasião para uma das cenas mais célebres
da história do cinema e "o grande momento do filme":
"A
invasão de Osterlich (a Áustria) está prestes a acontecer, e Charlie, que foi
preso por resistir às tropas de choque, foge do campo de concentração num
uniforme roubado bem no momento em que Hynkel está para cruzar a fronteira. Ele
é confundido com o ditador e levado à capital do país conquistado em meio à
multidões que o aclamam. O pequeno barbeiro judeu vê-se guindado a um enorme
palanque, com cerradas fileiras de dignitários nazistas atrás dele e milhares de
soldados abaixo, todos esperando para ouvir seu discurso triunfal. Em vez de
proferir a solene fala que dele se espera, Charlie faz um poderoso e combativo
discurso em prol da democracia, da tolerância e da decência. É realmente um
tremendo pronunciamento, uma espécie de versão do discurso de Gettysburg de Lincoln num inglês de Hollywood, uma
das mais fortes peças de propaganda que ouvi em muito tempo.
(...)
Qual é o dom peculiar de Chaplin? É seu poder de representar uma espécie de
essência concentrada do homem comum, a inerradicável crença na decência que
existe no coração de pessoas normais, pelo menos no Ocidente. (...) Mais do que
qualquer truque humorístico, assim creio, o poder de atração de Chaplin reside
em sua capacidade de reiterar o fato, encoberto pelo fascismo e, muito
ironicamente, pelo socialismo, de que vox populi é vox Dei, e
que gigantes são uma praga. Não é de admirar que Hitler, a partir do momento em
que chegou ao poder, tenha banido os filmes de Chaplin da Alemanha!" (p.
39)
CHARLIE
CHAPLIN, O Grande Ditador
Discordo
do tom um pouco populista que Orwell utiliza-se para falar que o "homem comum",
as "pessoas normais", teriam uma "inerradicável crença na decência": não se
trata, aí, de idealização excessiva das classes populares, quando sabemos que
existem cúmplices do fascismo em todas as classes e que muitos daqueles
que eram funcionários em campos-de-concentração e apertavam botões para soltar o
gás letal Zyklon B não eram de classes economicamente privilegiadas?
Ademais,
Orwell tem certos arroubos anti-marxistas que parecem inacreditáveis de tão
toscos, como quando ele diz que "uma educação no marxismo e em credos similares
consiste grandemente em destruir o senso moral" (p. 39), algo que poderia ter
sido escrito por algum reacionário direitista apoiador de C.C.C.s (Comando de
Caça aos Comunistas). Este "socialista democrático" parecia descrente de
qualquer possibilidade de construir uma sociedade onde a felicidade pudesse ser
permanente - e boa parte dos artigos reunidos em O Que É
Fascismo revelam a crítica orwelliana dos pensamento e práticas
utopistas:
"Todos
os esforços para descrever uma felicidade permanente têm fracassado, desde a
história mais primeva", sugere Orwell, relembrando alguns intentos utópicos nas
obras de H. G. Wells nos anos 1920 como The Dream e Men Like Gods. "Ali se tem
uma imagem do mundo como Wells gostaria de vê-lo. É um mundo cujas tônicas são
um hedonismo esclarecido e a curiosidade científica.Todos os demônios e todas as
misérias que agora nos afligem desapareceram. Ignorância, guerra, pobreza,
sujeira, doença, frustração, fome, medo, sobrecarga de trabalho, superstição -
tudo desapareceu. Expresso dessa maneira, é impossível negar que é o tipo de
mundo que todos nós queremos. Todos queremos abolir as coisas que Wells quer
abolir. Mas será que existe alguém que realmente quer viver numa utopia
wellsiana?
Ao
contrário, não viver num mundo como esse, não acordar um dia num higiênico
subúrbio-jardim infestado de rigorosas professorinhas nuas tem se tornado de
fato uma consciente motivação política. Um livro como Admirável Mundo Novo de
Aldous Huxley é uma expressão do verdadeiro medo que o homem moderno sente da
sociedade hedonista racionalizada que ele tem o poder de criar. Um escritor
católico disse recentemente que, em termos técnicos, utopias são agora factíveis
e que, por consequência, como evitar uma utopia tornou-se uma questão séria. Com
o movimento fascista bem à nossa vista, não podemos descartar isso como se fosse
uma mera e tola observação. Pois uma das fontes do movimento fascista é o desejo
de evitar que se crie um mundo racional demais e confortável demais..." (ORWELL,
2017, p. 65).
A
tentativa de construir uma sociedade perfeita pode acabar atingindo justamente o
inverso: a instauração de uma distopia totalitária. Orwell insiste neste tema,
comentando livros como o Nós de Zamyatin (pg. 141 a 146) e o Brave
New World de Huxley, dizendo que a felicidade permanente de todos não é um
objetivo factível, não é algo que possa ser de fato concretizado, é somente uma
quimera inútil da qual ele pretende desenganar-nos:
"Quase
todos os criadores de utopia se parecem com o homem que está com dor de dente e,
por isso, pensa que a felicidade consiste em não ter dor de dente. Eles querem
produzir uma sociedade perfeita mediante uma interminável continuação de algo
que só foi valioso porque era temporário. Mais sábio seria dizer que há certas
linhas ao longo das quais a humanidade tem de se movimentar, que a grande
estratégia está mapeada, mas que profecia em detalhes não faz parte de nosso
negócio. Quem quer que tente imaginar perfeição simplesmente revela seu próprio
vazio." (p. 72)
Orwell,
portanto, está bem distante daquele dreamer evocado por Lennon em
"Imagine". O autor de 1984, vivendo em uma época histórica conturbada
por conflagrações bélicas gigantescas, só podia mesmo enxergar com sarcasmo a
proposta de que o ser humano chegaria um dia a constituir uma utopia sobre a
face da Terra. Sua denúncia das realidades distópicas, porém, segue fornecendo
alimento para nossa lucidez e permitindo-nos pensar em lutas necessárias e
urgentes por um mundo menos pior. A perfeição, de fato, é inacessível,
sonhá-la só nos trará desilusão. Trata-se de fazer com que
tornem-se impossíveis os horrores e atrocidades que existem de fato
nesta realidade em que convivemos e que muitas vezes nos faz pensar em James
Joyce e sua frase lapidar: "a História é um pesadelo do qual estou tentando
acordar". Ao evocar um socialismo que é devotado à fraternidade humana, Orwell
não fecha a porta à possibilidade de que esta fraternidade também possa
manifestar-se como solidariedade no infortúnio, união na miséria, congregação
coletiva que imperfeitamente improvisa o improvement de um mundo que,
se nunca será perfeito, será sempre aperfeiçoável. Façamos juntos com que
torne-se impossível aquilo que hoje é o mais horrível. E que esse seja nosso
primeiro passo rumo a outro mundo possível.
Pesquisa e Edição da matéria de Severino Antonio - bibiu
Notícias de ALAGOA GRANDE acesse - CIDADANIA ALAGOAGRANDENSE
Nenhum comentário:
Postar um comentário