quinta-feira, 15 de março de 2012

EXTRA! 'Raul Seixas morreu de amor', diz Walter Carvalho, diretor de documentário sobre o artista.

Walter Carvalho dirige filme sobre o roqueiro, que estreia no dia 23.
Músico teria sofrido a vida inteira pela perda da 1ª de cinco companheiras.

José Raphael Berrêdo Do G1, no Rio
Raul Seixas teve muitas mulheres, como mostra o documentário “Raul: o início, o fim e o meio”, de Walter Carvalho, que estreia no próximo dia 23 nos cinemas. A primeira, no entanto, Edith, que se recusou a aparecer no filme, é considerada por amigos e familiares do músico o grande amor de sua vida e até, para alguns, a causa da entrega ao alcoolismo, vício que ajudou a matá-lo precocemente, aos 44 anos, vítima de uma pancreatite em consequência da diabete, em 1989.
“O Raul morreu por amor. De uma paixão pela Edith. Ele 'marcou uma touca' lá no início e achou que poderia resolver quando quisesse. E nunca mais ele conseguiu chegar perto. Ela foi embora com a filha (Simone) e ele nunca mais a viu”, conta o diretor de “Janela de alma” (2001) e “Cazuza – O tempo não para” (2004), em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (14), no Centro do Rio de Janeiro.
Raul conhecia Edith desde a adolescência e se casou com ela aos 23 anos, após completar o segundo grau, fazer cursinho e passar na faculdade só para convencer o pai da moça, um pastor protestante americano, a permitir que ficassem juntos. A “farsa”, segundo os amigos de infância de Salvador, deu certo e o sogro foi convencido. Sete anos depois, no entanto, após acompanhar o amigo e parceiro Paulo Coelho no exílio político em Nova York, e estourar no Brasil com o álbum “Gita”, viu sua mulher ir embora e levar a filha do casal para os Estados Unidos.
Simone aparece no longa e diz, em inglês, que não sente nada pelo pai e que não o conheceu. Ainda lê, via Skype, uma carta de Edith, na qual diz que não dá entrevistas sobre Raul porque são lembranças que a fazem mal e que ela está “feliz e envelhecendo ao lado do homem que ama”.
O artista teve outras quatro mulheres marcantes, todas presentes no documentário: Gloria Vaquer (irmã de Jay Vaquer), Tania Menna Barreto, Kika Seixas e, por fim, Lena Coutinho, de quem se separou um ano antes de morrer. Teve ainda três filhas mulheres: Simone; Scarlet, que também foi morar nos EUA com a mãe, Gloria; e Vânia, de Kika, a única que mora no Brasil. Diante de tantas trocas de companheiras, é impossível não perguntar: Raul era mulherengo?
“Só quando estava no final da relação”, diz o amigo Sylvio Passos. “Ou então quando estava bêbado, doidão. Aí o que caía na rede era peixe”, completa, com um detalhe revelador para um personagem que começou a beber antes por volta dos 13 anos e nunca mais parou.
Fundador e presidente do fã-clube Raul Rock Club, Sylvio, no entanto, concorda com Walter Carvalho sobre a paixão eterna do cantor. “Fiquei nove anos convivendo com o Raul e ouvindo ele falar da Edith. Ele tinha uns rolinhos de Super 8 em que apareciam Edith e Simone, e chorava feito criança toda vez que assistia”, lembra.
Filme estreia no dia 23 (Foto: Divulgação) 
O cantor e compositor Raul Seixas: filme sobre o
músico estreia no dia 23 (Foto: Divulgação)
Parcerias
Se teve várias musas, Raul também teve seus parceiros, como Paulo Coelho, com quem mantinha uma relação quase como um casamento: “Tinha tudo, menos o sexo”, conta no longa o hoje escritor, coautor de grandes sucessos como “Sociedade alternativa”, “Gita”, “Há dez mil anos atrás” e “Tente outra vez”.
Até com Paulo, porém, a relação teve um rompimento. Por mais de dez anos, se “separaram”. O reencontro foi no palco do Canecão, na turnê que Raul fez com Marcelo Nova, a última da vida do músico, em 1989. Com a carreira literária de vento em popa e morando na Suíça, o escritor quase fica de fora do documentário.
“Já tinha pensado em fazer o filme sem o Paulo, o que seria uma perda irreparável. Mas o Feijão (Denis, produtor) não desistiu. Um dia, o Multishow exibiu um especial dos 20 anos da morte do Raul, e o Sylvio (Passos) disse que eu estava fazendo um trabalho sério. O Paulo por acaso vê, pega o telefone, liga para o Feijão e diz que pode falar comigo.”
Na entrevista, uma coincidência caiu como uma luva para retratar uma relação cheia de misticismo e com uma certa rivalidade. Uma mosca, imortalizada por Raul em “Mosca na sopa”, ronda e pousa em Paulo Coelho por várias vezes. Após dizer que não vai matar e até chamá-la de Raul, ele não resiste e dá um tapa no inseto, antes de sorrir.
Arquivos
Os arquivos foram colhidos em televisão, jornal, cinejornal e filmes de família. A imagem mais antiga em movimento é de Raul garoto, com menos de 20 anos, comprando cigarro na Bahia, sua terra natal.
De 2009 a 2010, a equipe entrevistou 94 pessoas, entre amigos e familiares, mas 44 foram cortadas na edição final, restando 50. Com mais de 400 horas de material, o diretor levou um ano e seis meses para montar o filme. Entre os famosos, estão, Paulo Coelho, amigo, principal parceiro e por ano desafeto de Raul; além de Caetano Veloso, Tom Zé, Zé Ramalho, Pedro Bial e Roberto Menescal, entre outros.
“Hoje em dia a grande maioria dos que surgem são artistas fabricados. Na época do Raul, que é a época do Caetano, do Gil, do Chico, do Geraldo Vandré, era ao contrário. A prova disso é que hoje muitos não duram tanto. Ele era um artista irreverente, um compositor, um artista de palco, um tipo de artista que não acontece mais”, define Walter Carvalho

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