SUA MAJESTADE "O
REI DO RITMO"!
Ele não pôs beebop em seu samba, porque o Tio Sam pode até ter tentado, mas jamais conseguiu tocar um tamborim. Apesar do codinome americanizado, Jackson do Pandeiro dominou as mais diferentes formas da gente brasileira ritmar
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Dizem as boas línguas que a pernambucana de
Timbaúba, Flora Maria da Conceição, conhecida como Flora Mourão, nas feiras
onde cantava coco e se acompanhava ao pandeiro, só não tocou seu instrumento um
único dia: 31 de agosto de 1919. Nessa data, ela estava dando à luz, no Engenho
Tanques, no município de Alagoa Grande, um menino franzino, batizado com o nome
de José Gomes Filho. É obvio que foi uma homenagem ao pai da criança, um oleiro
também nascido naquela localidade. Entre os dotes paternos na olaria e a
criatividade rítmica materna, o garoto escolheu a segunda, principalmente
depois que a mãe o presenteou com um pandeiro.
Fora os cocos cantados por Flora e nadar nos rios
Mamanguape e Mandaú, e na Lagoa do Paó, o que o moleque mais gostava era de
assistir a filmes de faroeste, em especial quando o mocinho era interpretado
pelo ator Jack Perrin, daí ele se autoapelidar de Jack. E foi como Jack que,
ainda aos seis anos, começou a substituir o zabumbeiro que acompanhava a mãe
nas feiras, função que, aos dez, conquistou definitivamente.
A década de 1930 encontra Jack trabalhando com
ajudante de padeiro, em
Campina Grande, e assíduo freqüentador da zona do baixo meretrício
na cidade, onde acompanha os músicos com o instrumento que ganhou da mãe. Agora
já o chamam de Jack do Pandeiro. No pastoril, porém, é o palhaço Parafuso. No
último ano da década, forma com Zé Lacerda a dupla humorística Café com Leite,
que se apresenta em pensões e até no cabaré, onde ele também participa de uma
orquestra que toca ritmos como o blues, o jazz, o chorinho, o maxixe, a rumba,
o tango e o samba, entre outros.
Quando a Segunda Guerra Mundial chega às costas do
Brasil, em 1942, o encontra jogando de goleiro no Central de Campina Grande.
Dois anos depois, ele tem um entrevero com pracinhas retornados da guerra e
foge para João Pessoa, onde assina seu primeiro contrato com uma rádio, a
Tabajara, e integra uma orquestra de jazz. Porém, seu forte mesmo são as
emboladas, os sambas, os cocos, o frevo, os maracatus e outros ritmos de seu
povo.
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Em 1947, nasce uma nova formação da dupla Café com
Leite, desta vez com Rosil Cavalcanti. O curioso é que Jack se pinta de branco
e toca violão e Rosil, pintado de preto, tocava pandeiro. Um ano depois o filho
de dona Flora já está no Recife, integrando a orquestra Jazz Paraguary, da
Rádio Jornal do Commercio. Foi lá que o locutor Ernani Séve deu-lhe a primeira
oportunidade para cantar e o rebatizou de: "Jackson do Pandeiro, que é
mais fácil para se pronunciar", argumentou.
Em sua coluna eletrônica Meu Lote, Nei Lopes
destacou um grande compositor afrorecifense chamado Edgar Ferreira (1922 -
1995), que Jackson conheceu num dos terreiros de candomblé que freqüentava.
Inventor de um sub-ritmo chamado rojão, Ferreira compôs alguns dos grandes
sucessos de Jackson do Pandeiro como: Forró em Limoeiro (1953); Um a
um (1954); Vou gargalhar (1954), Cremilda (1955); Ele
disse (1956); e Dezessete na corrente, em parceria com Manoel
Firmino Alves (1958). O maior sucesso do "rei do ritmo", porém, é Chiclete
com Banana, composta em 1959 por sua mulher e parceira de shows, a cantora
e dançarina, Almira Castilho, e o magérrimo humorista baiano, Waldeck Artur de
Macedo, conhecido, ironicamente, por Gordurinha.
Tanto a biografia de Jackson do Pandeiro, que o
diabetes nos roubou, em Brasília, no dia 10 de julho de 1982, quanto a lista de
ritmos que ele dominava são intermináveis. Confesso que me emocionei bastante
ao assistir ao filme Gonzaga - de Pai para Filho, do cineasta Breno Silveira.
Será que alguém já pensou em transformar em cinema também a vida desse que,
como Gonzagão, internacionalizou todas as formas populares de cantar do nosso
povo nordestino? Certamente terá momentos muito engraçados e outros extremamente
comoventes. Afinal, o compositor-filósofo Billy Blaco, já dizia em seu Canto Chorado,
tão bem interpretado por Jair Rodrigues na Bienal do Samba, da TV Record, em
1968: "O que dá pra ri dá pra chorar..."
Fonte - Revista Raça Brasil - Foto - Montagem: bibiu do jatobá
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