domingo, 4 de janeiro de 2015

LAU SIQUEIRA, UM SECRETÁRIO DA CULTURA COM A ALMA DE POETA


Outro dia lendo uma reportagem sobre escritores (sobre como vivem os escritores) me ocorreu que não vivo de poesia. Eu vivo a poesia. Integralmente, com todas as minhas máscaras imprescindíveis. Não tenho muita importância a dar sobre a venda dos meus livros, sobre o que escrevo possa representar no cenário das décadas. Pois entendo que a poesia está sempre um pouco mais distante. Inclusive distante de mim. Ela apenas aparece nos momentos mais sufocantes e me ajuda a respirar. É quase sempre uma exasperação calculada. Cada verso é uma explosão consentida. Geralmente é um vômito. Algo que sai de mim por uma espécie de transbordamento. Sai pelos poros, pelos olhos e pelo excesso de silêncio. Por me deixar vazio de mim mesmo. Por ter deixado nutrientes na minha alma, ou apenas ter escorrido como num ato de limpeza. Uma limpeza das minhas impurezas invisíveis que são, a rigor, as mais robustas e poderosas. A poesia não tem um papel definido na minha vida. É a minha vida. Um passo entre a lucidez desesperada e a leveza da loucura. Ou vice versos. É com esta semente derramada entre palavras e silêncios que vou me espalhando pelo mundo. A poesia me surpreende sempre pela solidão que revela. Seja por chegar muito mais longe que o alcance da minha baladeira. Seja por escapar de mim sempre que a procuro. Ou por provocar ruídos estranhos e estranhas ondas de pedras jogadas na calmaria de um açude. Por me deixar só e nu comigo mesmo. Por não me pertencer e por não lembrar de mim quando estou triste. E se a amo é para ser o que sou em qualquer circunstância. Agradando e desagradando na grandeza de ser mais um que toma banho de óculos e esquece as chaves do lado de fora. Geralmente não a encontro, mas quando inundam meus olhos é um universo que me transforma e me diminui até a minha mais infinita grandeza. A poesia me ensinou a ter vaidade por sobreviver aos meus defeitos e qualidades.
Bom dia! E por favor... faça a gentileza de não confundir esse fingimento todo com falsidade. A poesia me ensina a fingir que minhas asas são maiores que meu corpo e que voar é uma esperança de amor que nunca chega. É um tipo de morte permanente que me ajuda a viver. Ela me ajuda nas travessias e às vezes naufraga e me afoga.

Por Lau Siqueira - 04/01/2015.

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